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Um dia, todos, seremos pobres
09-12-2011 23:20
Hoje começo por questionar quem não gostaria de passar os seus dias de reforma a desfrutá-la. Viajar, quem sabe, ilhas paradisíacas, margaritas (…). Seria quase um sonho, se não estivesse, esta realidade, a um passo de se transformar num pesadelo. Quem se reformar hoje, até o poderá fazer, mas quem está a iniciar a sua actividade profissional, não vai ter essa alternativa, ou então terá de aprender a fazer umas margaritas caseiras. A causa para isso acontecer é uma única: as pensões vão ser mais pequenas com a entrada em vigor das novas regras em 2007. Mas falarei disso mais à frente ilustrando com três exemplos retirados do simulador do site da Optimize:
https://www.optimize.pt/simuladores.php/Reforma.html#.
A questão é, será que as pessoas estão cientes deste cenário? Será que quem elaborou e aprovou a lei, informou devidamente quanto às consequências? Será que quem é afectado, quer saber? Creio que não. As pessoas sabem que vão receber uma pensão, só não sabem quanto e no que respeita ao quando, ainda está muito longe.
Mas afinal, o que é que afecta o cálculo das pensões?
Aqui instala-se a confusão, porque neste momento temos três situações diferentes a ter em conta para o método de cálculo. São eles:
- O método antigo, que tinha em consideração os dez melhores anos dos últimos 15 anos e que vigorou até Junho de 2007;
- As novas regras, que vigoram desde Junho de 2007 e que tem em consideração a média dos salários de toda a carreira contributiva;
- E, finalmente, o método misto que é um mix dos dois métodos anteriores e que é aplicado nas seguintes situações:
- Quem se reforma até 2016, o método antigo é aplicado até 2006, inclusive, e daí em diante vigoram as novas regras;
- Quem se reforme após 2016, o método antigo é aplicado até 2001, inclusive, e daí em diante vigoram as novas regras;
- Quem comece a sua carreira contributiva após 2001, vigoram as novas regras.
Para complicar o que, per si, já é complicado o suficiente, foi introduzido um factor de sustentabilidade que não é mais do que incluir nesta fórmula de cálculo o aumento da esperança média de vida. Uma pessoa que em 2009 tivesse 65 anos, era esperado que vivesse pelo menos mais 18 anos. Em 2040 espera-se que viva mais 21 anos. Este factor está, já, a ser aplicado desde 2008 e reflecte a desvalorização progressiva que é tida nas referidas pensões ao longo dos anos. Isto é, a partir de 1 de Janeiro de 2008, no momento do cálculo da pensão, ao valor desta, será aplicado este factor de correcção. Para 2011 este factor é de 0,9686, segundo o INE – Instituto Nacional de Estatística.
A título de exemplo, vamos considerar três situações:
1 – Uma pessoa que se reforma agora;
2 – Uma pessoa que se reforme em 2020;
3 – Uma pessoa que se reforme daqui a 40 anos.
Os pressupostos que foram usados no simulador são:
- No momento da reforma todos ganham o mesmo – 3360€;
- No início da carreira contributiva todos ganham o mesmo – 1000€;
- O crescimento dos salários é de 3% ao ano;
- A idade da reforma é aos 65 anos;
- Ser homem.
Na situação 1, temos:
Vencimento – 3360.38€
Pensão mensal a receber – 2274.41€
Parte do rendimento perdido – 1085.96€
% de reforma a receber - 67.68%
Na situação 2, temos:
Vencimento - 3359.79€
Pensão mensal a receber - 2100.31€
Parte do rendimento perdido – 1259.48€
% de reforma a receber - 62.51%
Na situação 3, temos:
Vencimento - 3359.90€
Pensão mensal a receber - 1365.71€
Parte do rendimento perdido – 1994.19€
% de reforma a receber - 40.65%€
Três análises são óbvias:
- Uma pessoa que esteja no início da sua actividade profissional, irá receber segundo este simulador, apenas 40.65% do seu último vencimento;
- 1365.71€ de pensão, nos dias de hoje poderá ser um valor considerável para muitos, no entanto daqui a 40 anos não será nada;
- O Estado está a transferir o risco e a responsabilidade para cada um de nós, conforme referi no artigo “Literacia financeira precisa-se” que foi publicado neste mural.
Como se resolve esta situação?
Poupando. Contribuindo e trabalhando durante mais tempo para compensar a correcção introduzida pelo factor de sustentabilidade e finalmente poupando ainda mais. Quanto mais depressa se fizer isso, maior é a probabilidade de se conseguir uma reforma mais confortável. Não é contornável. Não é, sequer, uma opção, porque senão o fizermos, um dia, seremos todos pobres.
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