Invista na sua vida real

30-04-2012 21:31

 

     Falei a semana passada com a Daniela – nome fictício - que me disse que estava falida e que não sabia o que fazer para sair dessa situação. Após uma primeira análise, concluí que estava longe de estar falida. Estava, sim, emocionalmente, desesperada. Após uma análise mais aprofundada e após ter feito o ponto da situação financeira actual e sabermos para onde queremos ir, traçamos um caminho que temos de percorrer.

     Todos nós sabemos isto, o problema é que por vezes estamos metidos num turbilhão de dificuldades ao ponto de não conseguirmos ver as opções que temos ao nosso dispor. Uma frase de um senhor chamado Nietzche diz algo parecido com isto:

          “Por vezes temos de sair da cidade para nos apercebermos o quão altas são as suas torres”

     E é precisamente isto que temos de fazer. 

     A Daniela chegou à conclusão que estava a viver uma vida que, apenas, vivia às vezes. Isto é, esta pessoa gastava numa vida que pensava que vivia, em vez de gastar numa vida que realmente vive. Continua confuso? Passo a exemplificar com alguns exemplos:

          - Comprou uma Bimby há cerca de um ano que, apenas, usou duas vezes;
          - Adora comprar vestidos de noite, mas não tem onde os usar;
          - Comprou uma plataforma vibratória que usa, apenas, três ou quatro vezes por mês;
          - Tem um T4 no Algarve para passar no máximo 15 dias de férias por ano. O agregado familiar é composto por três pessoas;

     Já pensou que, se calhar, todos nós andamos mais satisfeitos com as decisões do dia-a-dia e não com aquelas decisões que tomamos, esporadicamente, e que têm um grande impacto no nosso quotidiano? Isto é verdadeiramente real. Como consequência andamos preocupados, stressados, angustiados e outros “ados” que nos limitam os nossos dias. Esse facto, pode ser considerado uma das explicações que nos leva a viver no limite, financeiramente, saudável. Diria mais, nos leva a viver a vida dos outros, porque são os outros que nos empurram para um determinado estilo de vida para o qual gostaríamos de ter. Mas somos nós que nos deixamos levar sem termos condições para aguentar as consequências: A Daniela tem uma série de casacos para o frio, uma série de cachecóis e luvas, botas (…). Ela, também, adora botas. Muitas calças e saias, muitas blusas, fatos e chapéus. Tem três armários, inteiros, cheios de roupa e não tem nada para vestir. As mulheres são assim, dizem algumas pessoas. Será mesmo?
Mas a Daniela começou a reparar no resultado dos gastos, todas as manhãs, quando se veste e começou a aperceber-se do que está em causa. Muitas das coisas que comprou nunca chegou, realmente, a usar. Neste momento, começou a pensar no quanto poderia estar bem melhor se tivesse posto de lado a mesma quantia que gastou durante estes anos todos a comprar coisas que nunca chegou a usar realmente. Chegou a um número surpreendente. 

     Adequar as nossas decisões financeiras aos nossos valores, aos nossos princípios, mas fundamentalmente, à nossa vida real, torna-nos mais satisfeitos, mais livres. Em vez de gastar em coisas que vai usar de vez em quando, questione-se se, realmente, precisa disso. Depois invista na sua vida real, não na sua vida de fantasia e isso, sim, é libertador.

 

—————

Voltar