Crédito sem juros? – Desconfie!

22-11-2011 18:00

 

     Numa passagem, ainda que rápida por algumas superfícies comerciais, verifica-se que algumas delas têm campanhas de venda a crédito sem juros. A minha reacção é sempre a mesma, sorrir quando as vejo e, quase sempre tenho a tentação de me sentar à frente do vendedor para que me explique, dogmaticamente, a suposta campanha.

     Primeira consideração: não existe crédito sem juros.

     Segunda consideração: a composição de uma taxa de juro TAEG – taxa anual de encargos globais. Esta taxa é composta por vários itens, são eles:

           

            - Taxa nominal;

            - Comissões associados ao contrato de crédito;

            - Custos de abertura, administrativos ou de processamento;

            - Taxas e impostos, nomeadamente, o imposto de selo;

            - Seguros;

- Custos de manutenção de contas que sejam obrigatórias abrir para a utilização do crédito;

- Outros encargos de qualquer natureza ligadas ao contrato de crédito que o consumidor deve pagar e que sejam do seu conhecimento.

 

     Mesmo que a taxa nominal seja igual a zero, há sempre comissões, taxas, impostos, etc. e que quando quantificados e somados permitem calcular a TAEG, logo crédito sem juros para o cliente não existe. O que poderá acontecer é que esta taxa seja residual, dependendo, claro está, do montante do crédito.

 

     Enquanto medida do custo total do crédito para o cliente, a TAEG, expressa em percentagem, é um importante elemento de comparação das alternativas de crédito disponíveis. Por outro lado, associando este factor de comparação ao factor tempo, estamos muito próximos duma tomada de decisão racional e esclarecida. Pelo contrário, quando nem comparamos nem temos tempo para decidir, quase sempre se tomam decisões pouco esclarecidas que causam, ou podem causar, problemas desnecessários ao orçamento familiar, podendo no limite, pôr em causa a viabilidade económico-financeira familiar.

 

     Passo a relatar um exemplo duma decisão pouco esclarecida:

     Num dos workshops sobre literacia financeira, este ano, a certa altura alguém partilhou, após perceber o conceito taxa de juro e de spread, a sua experiência com um crédito ao consumo que contraiu para comprar a “mota dos seus sonhos”. Narrava ele, que após alguns meses no mercado de trabalho, decidiu, finalmente, comprar a referida mota. No banco não lhe deram crédito. Numa instituição financeira de crédito ao consumo concederam-lhe o tal crédito. Ele só queria ter a prestação mais baixa possível, não queria saber qual a taxa de juro implícita no contrato, spread, etc.. Feitas as contas chegou à conclusão que no fim de oito anos iria pagar duas motas. Foi evidente que quando encarou a realidade dos factos, percebeu o que tinha feito. Faltam-lhe seis anos.

 

     Por fim, na altura de contrair qualquer empréstimo deverá:

            - Avaliar a necessidade do bem em causa e posteriormente do crédito;

            - Comparar as alternativas no mercado;

            - Comparar a TAEG das diferentes alternativas;

            - Adequar o prazo do crédito ao período de vida do bem;

            - Ter em atenção aos produtos que lhe vão propor para fazer baixar a prestação – podem não compensar;

            - Estar esclarecido quanto a todos os factos relatados no contrato de crédito e suas consequências;

            - Compreender as condições de amortização.

 

     Num próximo artigo, irei debruçar-me sobre taxas de juro, que tipos há, o que as caracteriza e as diferencia.

 

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